domingo, 26 de agosto de 2012

3ª Expedição: Estação Ferroviária da Mogiana




Aproveitando o festival de Pipas, a terceira expedição visitou a Estação ferroviária de Passos, onde as construções são da década de 20 do século passado.

Companhia Mogiana de Estradas de Ferro em Passos
HISTÓRICO DA LINHA: O ramal de Passos foi inaugurado em seu primeiro trecho de 15 quilômetros ligando Guaxupé a Guaranésia, em 1912. Foi sendo prolongado aos poucos, chegando a Passos, onde terminava, somente em 1921. Em 1976, o tráfego de passageiros foi eliminado, sobrando os cargueiros, que, com o tempo, passaram a atender somente ao carregamento de cimento da fábrica de Itaú de Minas, e vindo não por Guaxupé, mas por São Sebastião do Paraíso, ali chegando pela antiga linha da São Paulo-Minas. Com isso, o trecho entre Guaxupé e S. S. Paraíso foi abandonado, e teve os trilhos retirados por volta de 1990. O trecho entre Paraíso e Itaú de Minas ainda tem seus trilhos, mas as cargas de cimento deixaram de circular já há anos e o abandono da linha é total. O trecho final até Passos teve também os trilhos retirados.





A ESTAÇÃO: A estação de Passos foi inaugurada como estação terminal do ramal que leva seu nome, em 1921. Foi ativa até 1976, quando cessaram de correr os trens de passageiros do ramal. Em 1986, estava já "fechada e em mau estado", segundo o relatório da Fepasa, "mas com todas portas e janelas ainda lá", como se isso fosse uma grande virtude. A situação havia mudado em 2001: "Tanto o prédio da estação quanto o do antigo armazém estão em muito bom estado, e uma placa de inauguração indica que eles funcionam como centro de memória da cidade, o que não pudemos verificar, pois devido ao feriado estava tudo fechado. Os trilhos realmente já foram retirados" (Rossana Romualdo, 07/2001). "Creio que não contarei nenhuma novidade a você, mas esta fotografia dos anos 1920 me entusiasma pelo seu potencial documental da tipologia arquitetônica das estações da Mogiana.

Não sei se o tipo ou padrão arquitetônico desta estação poderia ser o segundo, terceiro ou quarto padrão adotado pela Mogiana, mas note que: A) é exatamente o mesmo padrão (desenho, dimensões, detalhes ornamentais, etc. de inúmeras outras estações da Mogiana, como por exemplo as estações do trecho Campinas-Jaguariuna da ABPF, construídas após retificações da linha, substituindo outras de padrão mais antigo, de alvenaria de tijolos à vista (Carlos Gomes-velha, por exemplo, e Desembargador Furtado-velha), evidenciando a importância que a arquitetura dos seus prédios tinha para a própria empresa; B) o mais importante: apresenta muito bem o padrão de modulação desse padrão ou tipo de estação, com um corpo central que abriga as acomodações básicas (provavelmente sala do chefe, saguão, etc.) e que pode ser acrescido de extensões conforme necessário em cada localidade; este caso parece exemplar justamente porque mostra muito bem o núcleo ou módulo central, mais elevado que o resto, e um acréscimo (não necessariamente feito depois, pode ter sido edificado na mesma época do núcleo) de um dos lados, porém sem um equivalente simétrico do outro. Por ai vê-se claramente a previsão de que o prédio inicial pudesse ser aumentado; C) o formato e decoração das janelas, a decoração dos panos das fachadas, enfim, toda a 'cara' das fachadas foi intensamente copiado na arquitetura civil, exemplificando a influência que a arquitetura ferroviária exerceu sobre o 'gosto', a referência estética que criou para toda a população. Isto é apenas mais um dos muitos aspectos em que a ferrovia definiu muito do caráter da nossa cultura, e esta foto permite percebê-lo muito bem" (Júlio Moraes, 09/2007). Fala-se, embora eu jamais tenha lido a respeito, que a linha de Passos seria prolongada até a cidade de Piumhy e que há cortes nos morros até hoje feitos sem que os trilhos jamais tenham sido colocados. No finalzinho de 2006, eu finalmente visitei o local com a Ana Maria, que ia fotografando enquanto eu olhava tudo aquilo. Um enorme pátio, digamos, gramado, e do outro lado algumas casas de turma. Nem sombra de trilhos; alguns restos de guias originais de ruas do centro (granito?) jogadas por ali. A estação, mais ou menos: é usada como uma espécie de centro de memõria, ainda, mas há madeiras em mau estado. O prédio e muito bonito, bem estilo Mogiana anos 1930, 40. Fica meio afastado da cidade, aquilo certamente era o limite da zona urbana em 1921 quando o trem chegou. Um belo lugar, mas hoje já cercado de área urbana. Ao longe, no final do pátio, casas que pertencem a uma usina que fica fora da cidade. Um ou outro depósito. Os postes da estação são de ferro fundido, há diversos, mas estão sem as esferas de vidro para iluminação. Faz falta um trem chegando ali, como fazia até 1977, buzinando com as diesel e mais antigamente, apitando com o som das vaporosas que certamente ecoava ao longe. Em 2012, o prédio estava novamente abandonado.
(Fontes: Ralph Giesbrecht, pesquisa local; Ana Maria Linhares Giesbrecht; Gustavo Torres; Rossana Romualdo; Alita Soares Polachini; Julio Moraes; Cia. Mogiana: Relação oficial de estações, 1937; Guia Levi, 1941; Mapa - acervo R. M. Giesbrecht)

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domingo, 5 de agosto de 2012

2ª expedição - Praça do Rosário



A segunda expedição ocorreu no dia 5 de agosto, desta vez percorremos a Praça do Rosário e imediações, alem de percorrer os principais casarões  pode-se visitar algumas construções do período modernista.

Igreja do Rosário
Em março de 1852, o vigário da Matriz, padre Francisco de Assis Pinheiro Uchoa, e várias pessoas da Vila Formosa resolveram erigir um templo em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Antes disso, há indicações, em 1836, de que uma capelinha existia no local, onde “reis e rainhas e mais irmãos hão de servir à N. Sra do Rosário” – uma clara referência aos festejos de Reisado e Congadas que se concentravam no largo.
Em 1855, foi feito um contrato entre a Irmandade Nossa Senhora do Rosário e Jacinto Salgado para efetivar a construção da igreja. Passados alguns anos, Antônio Correa da Paixão e Ecídio Martins Borges foram contratados para colocar os sinos e o envidraçamento das janelas.
Durante as celebrações da Semana Santa, quando a cidade enchia-se de gente, a tradicional procissão do en-contro descia da Igreja do Rosário em direção à Rua Direita (hoje, Rua Antônio Carlos) integrando os dois largos da Matriz e do Rosário, como ainda hoje denominamos o centro da cidade.


O Fórum de Passos

No início de 1909, o Governo do Estado enviou um delegado militar, o alferes Isidoro Correia Lima, para que pusesse fim aos desmandos e falsificações eleitorais, enfim que fizesse uma “higienização” nas práticas criminais e eleitorais passenses. Desde que chegou, Isidoro aproximou-se dos líderes políticos lavouristas: almoçava e jantava com eles, pedia-lhes dinheiro emprestado, prestava-lhes favores. Os lavouristas tinham a impressão de que Isidoro estava apoiando a continuação da política local.

Em agosto de 1909, Juca Miranda e seu camarada Benvindo, após desentendimentos familiares, assassinaram João Modesto, cunhado de Juca, quando este chegava em casa. A família de João Modesto tinha certeza de que o crime não seria apurado e tudo ficaria como se nada tivesse acontecido.
O delegado Isidoro não recebeu nenhuma denúncia do crime, mas resolveu convocar as pessoas a deporem sobre o caso João Modesto, primeiramente em dias diferentes, depois foi adiando os interrogatórios até que todos depusessem no mesmo dia, o que aconteceu em 26 de setembro de 1909.
O primeiro a depor foi Juca Miranda, autor do crime. O plano do delegado era chamar cada coronel na sala de interrogatórios, assassiná-los um a um, cortando-lhes as cabeças a machadadas. Juca Miranda sentou-se à frente do delegado e o soldado Furquim, seu ajudante, ficou de pé ao lado do delegado. Após o depoimento, quando Juca Miranda abaixou-se para assinar o livro, o soldado deu-lhe machadadas no crânio e no pulso. Juca reagiu e saiu ferido e gritando para os coronéis que estavam na sala de espera. Armou-se uma confusão. Não se sabia quem atirava em quem.
Antenor Magalhães, amigo de Neca Medeiros, foi um dos muitos curiosos que foram ao Fórum assistir ao fato tão inusitado: os coronéis depondo. Foi morto na confusão. Neca Medeiros, quando viu o alferes Isidoro saindo do Fórum, foi para o seu lado falando alto e protestando contra a violência. Este prontamente ofereceu-lhe proteção, dizendo-lhe que entrasse no Fórum, ao que Neca Medeiros aceitou de imediato, achando que estaria mais protegido.
Quando entraram, Isidoro fechou logo a porta e, na cozinha, Medeiros foi baleado, morrendo junto ao fogão de lenha. Os dois políticos mais influentes de Passos estavam mortos. George Davis, um americano que estava em Passos devido a acordos para instalação da Companhia de Força e Luz, foi atingido por uma bala, a qual acertou o relógio que trazia no bolso, salvando-lhe da morte. Depois de baleado, ficou imóvel no chão, fingindo-se de morto até que a confusão fosse desfeita.
Após os assassinatos, Isidoro e seus ajudantes fugiram atirando para o alto. A cidade de Passos foi invadida pela jagunçada. Ninguém saía de casa. Monsenhor João Pedro, por meio de visitas e reuniões familiares, serenou os ânimos. Isidoro e seus ajudantes retornaram alguns dias depois, sob a proteção do prefeito. Antes de entrar, explodiram dinamites e deram tiros para o alto, intimidando as pessoas. Nesse mesmo dia, foram presos os envolvidos.
Em março de 1910, numa sessão de júri público – presidida pelo juiz de direito da Comarca, Dr. Saturnino Amâncio da Silveira, pelo promotor de justiça, Dr. Fernando de Magalhães Macedo e servindo de escrivão o capitão Hilarino Joaquim de Moraes –, foi fei-to o julgamento dos envolvidos na matança. Ao lado do promotor de justiça, o Dr. João Silveira, advogado residente em Casa Branca, chamado a Passos para auxiliar o Ministério Público na acusação por parte das viúvas do coronel Manoel Medeiros e do tenente-coronel José Stockler de Miranda, as senhoras Guilhermina Emygdia
de Lima Medeiros e Valeria de Lemos Miranda.
Os advogados de defesa foram Dr.Lycurgo Leite e Dr. João Leite, de Muzambinho e Guaranésia, e Dr. Antônio Celestino, de Passos. Muitas pessoas aglomeraram-se nas dependências e ao redor do Fórum para acompanhar os debates. Foram julgados em primeiro lugar o alferes Isidoro e o soldado Furquim e, depois, o coronel Francisco de Lemos Medeiros. Todos os réus foram absolvidos.


Expedicionários
A partir de 1944, o Brasil envolveu-se na Segunda Guerra Mundial e, devido à presença do Tiro de Guerra na cidade, muitos jovens passenses foram convocados para a guerra. Os nascidos em 1.922 e 1.923 fizeram parte do 12º Regimento de Infantaria de São João Del Rey-MG,
cidade sede da infantaria, que treinou diversos jovens para compor a Força Expedicionária Brasileira (FEB Os expedicionários de Passos eram: Jones Pimenta de Vasconcelos, Geraldo Silvério de Almeida, Antonio Formágio, Lauro Sawaya, Jorge Jabur, Alfredo Lemos de Vasconcelos, João Lemos Filho, Maurício Gomes de Pádua e Djalma Bordezan.
Embora a guerra na Europa tenha terminado em julho de 1945, os expedicionários chegaram a Passos somente em novembro. Foram recebidos com grande festa na Praça da Matriz, onde foi realizado um comício homenageando-os.
Para homenagear aos pracinhas, a antiga Rua Primeira Chapada passou a ser chamada de Avenida dos Expedicionários passenses, e na Praça Geraldo da Silva Maia (Praça do Rosário), foi erguido um monumento.

O modernismo em Passos
Autor do Projeto: Paulo Esper Pimenta e Maristela Scotfield Silva Pimenta
Residência Feliciano Maia de Andrade

Localizada em frente a antiga praça do Rosário (hoje Geraldo da Silva Maia), tradicional e central espaço público da cidade, ao lado da Prefeitura Municipal. Possui três pavimentos (um acrescido nos anos 1990), divididos no térreo em uma ampla sala com face para a praça, com uma varanda em balanço e abrigo para carros, com acesso de serviço. Pela face da rua lateral, há o acesso social. O pavimento térreo possui ainda as dependências de serviço e cozinha. Uma escada, com face para o oeste, dá acesso ao segundo pavimento, onde ficam os dormitórios e sanitários. Posteriormente, o arquiteto acrescentou à laje de cobertura uma área de lazer, com acesso independente. Com linhas retas e balanços arrojados em concreto armado com uma empena lateral envidraçada e pequenas aberturas como se fossem nichos, é uma obra de referência da arquitetura moderna local que dialoga com o Paço Municipal, também projetado pelos mesmos arquitetos, por seu impacto visual em área central da cidade.

Prefeitura Municipal de Passos

Construída no centro da cidade, defronte aos jardins da Praça Geraldo da Silva Maia, antiga praça do Rosário, no terreno que foi ocupado pela própria igreja demolida. O projeto iniciou-se durante a gestão do prefeito José Figueiredo (1964-1969) e foi concluída na de Antônio Pedro Patti (1969-1973). Tinha previsão, conforme demonstram os estudos iniciais, para oito pavimentos. Posteriormente, o projeto definitivo foi mais modesto, restringindo-se a quatro pavimentos, onde funciona atualmente apenas a sede do Executivo Municipal, já que originalmente destinava um dos andares à Câmara Municipal. O prédio, um paralelepípedo com duas empenas cegas curvas revestidas por telhas de alumínio, possui as outras duas faces laterais totalmente envidraçadas, demarcadas pela estrutura livre em concreto armado. Vários elementos plásticos modernistas estão presentes na obra, como as escadarias em leque, uma ampla sacada (terraço-jardim) para permitir solenidades públicas desdobrando-se sobre a praça e a paisagem da cidade. Além disso, foram utilizados brises soleil horizontais e móveis na face oeste, em fibrocimento. Os dois pavimentos superiores são sustentados por balanços estruturais (pórticos), que permitem a existência de corredores laterais (ruas) sobre a viga de transição, que tem formato peculiar.

Textos  
Profª Leila Suhadolnik
Edição comemorativa 150 anos de Passos
 Prof. Mauro Ferreira
Arquiteto, Prof. FESP